Últimas novidades no tratamento de TDAH

por Fabiana Lemos

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As abordagens para o tratamento do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) têm passado por significativas inovações, tanto em termos de medicamentos quanto de terapias, impactando o cenário global e brasileiro.

No Brasil, a atomoxetina se destaca como uma novidade entre os tratamentos. Esse medicamento não-estimulante, recentemente aprovado pela ANVISA, surge como uma opção para pacientes que não respondem adequadamente aos estimulantes tradicionais, como Ritalina (metilfenidato) e Venvanse (lisdexanfetamina). A atomoxetina atua aumentando os níveis de noradrenalina no cérebro, promovendo uma melhora na capacidade de atenção, sem o risco de dependência que pode estar presente em alguns psicoestimulantes​(

No contexto internacional, a viloxazina (Qelbree nos EUA) é outra inovação promissora. Aprovada recentemente, este medicamento não-estimulante foi desenvolvido tanto para crianças quanto para adultos com TDAH, sendo uma das primeiras opções dessa categoria em duas décadas. A viloxazina é especialmente indicada para pacientes que também apresentam condições associadas, como ansiedade, que podem ser agravadas pelo uso de estimulantes​(

Além dos medicamentos, o tratamento do TDAH tem se beneficiado da integração com terapias comportamentais e psicoeducação, principalmente em crianças. Essas abordagens complementam o uso de medicamentos, ajudando os pacientes a desenvolver habilidades de organização e controle de comportamento​

Essas novas opções de tratamento, aliadas à personalização do cuidado, oferecem alternativas mais seguras e eficazes para o controle dos sintomas do TDAH, ampliando a qualidade de vida dos pacientes.

 

Fundamentos do TDAH: Circuitos e Vias

Amy F. T. Arnsten, Ph.D., afirmou que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) está relacionado a alterações no córtex pré-frontal (CPF) e em suas conexões com o estriado e o cerebelo. A compreensão dos córtices de associação superior pode fornecer insights importantes sobre a complexa sintomatologia do TDAH. A Dra. Arnsten revisou as funções desses córtices de associação, suas conexões com os gânglios basais e o cerebelo, e a forte modulação desses circuitos pela dopamina e noradrenalina.

Ela explicou que o CPF regula o comportamento, mantém a atenção durante intervalos, divide a atenção e inibe distrações. Lesões nessa área resultam em distração, má concentração e organização, impulsividade, esquecimento, hiperatividade e falha no planejamento, sintomas comuns no TDAH.

Os córtices de associação parietal e temporal, assim como o CPF, projetam-se para o núcleo caudado, formando um circuito cognitivo que se conecta aos gânglios basais e cerebelo. Estes gânglios desempenham um papel na seleção e execução de pensamentos, enquanto o cerebelo, frequentemente menor em crianças com TDAH, pode influenciar funções cognitivas. Dopamina modula os gânglios basais e a noradrenalina afeta o cerebelo. Alterações genéticas que influenciam as catecolaminas podem, portanto, impactar o funcionamento dessas estruturas.

A dopamina atua nas famílias de receptores D1 e D2, sendo o CPF rico em receptores D1, D4 e D5. Níveis moderados de estimulação desses receptores melhoram a memória de trabalho, enquanto doses elevadas podem prejudicá-la. A noradrenalina age nos receptores adrenérgicos α1 e α2A, entre outros. A estimulação moderada dos receptores α2A melhora a memória de trabalho e o controle de impulsos, enquanto a ativação excessiva dos receptores α1 prejudica a função do CPF.

Os estimulantes como a anfetamina e o metilfenidato (Ritalina) agem aumentando a liberação e/ou inibindo a recaptação de dopamina e noradrenalina, estimulando os receptores D1 e α2A, o que contribui para os efeitos terapêuticos no tratamento do TDAH.

Dra. Arnsten concluiu que o funcionamento ideal do CPF ocorre com a liberação moderada de catecolaminas, com a norepinefrina aumentando sinais e a dopamina reduzindo “ruídos”. Medicamentos que otimizam a transmissão de catecolaminas podem normalizar os circuitos afetados e aliviar os sintomas do TDAH.

Fonte: National Library of Medicine


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